Perturbações no ciclo do carbono na transição Ediacarano-Cambriano: evidências a partir de isótopos de carbono pareado no Grupo Bambuí, Bacia do São Francisco

Autor Sergio Caetano-Filho
Resumo

O Período Ediacarano registra eventos extremos na história da Terra, como glaciações globais, diversificação dos metazoários e oxigenação dos fundos oceânicos. Tais eventos estão diretamente associados a perturbações no ciclo global do carbono, refletidos nas composições isotópicas deste elemento nos carbonatos (δ 13Ccarb) e matéria orgânica (δ 13Corg) contidos nas sucessões sedimentares. Variações acopladas entre δ 13Ccarb e δ 13Corg se tornam mais frequentes no Ediacarano tardio e são comumente interpretadas como variações na condição redox da coluna d’água, mudanças no fator de fracionamento fotossintético, ou diagênese. Este estudo apresenta novos dados de δ 13C pareado (carbonato e matéria orgânica) para a sequência basal do Grupo Bambuí, Bacia do São Francisco, visando à investigação do ciclo do carbono em escalas locais a globais ao longo da transição EdiacaranoCambriano. As curvas de δ 13Ccarb e δ 13Corg se apresentam acopladas na maior parte da sucessão sedimentar, com fracionamento isotópico de carbono ( 13C = δ 13Ccarb−δ 13Corg) em torno de 27‰. Entretanto, variações consideráveis no  13C são observados na base da seção. Os chamados carbonatos de capa apresentaram uma correlação inversa, com progressivo aumento de δ 13Ccarb associado a um decréscimo de δ 13Corg, levando ao aumento de  13C de 23 a 27‰. Tal incremento é comumente associado ao aumento do pCO2 atmosférico. O topo da seção é marcado por uma forte excursão positiva nas curvas de δ 13Ccarb e δ 13Corg, de valores em torno de +1,5 e −25,5‰ para valores de até +10 e −18‰, respectivamente. Tais valores extremamente enriquecidos em 13C são compatíveis com o aumento de preservação e soterramento de carbono orgânico, em um estágio de mar restrito associado à amalgamação do Gondwana Ocidental no final do Ediacarano. Entretanto, considerando-se condições steadystate, o registro isotópico de carbono do Grupo Bambuí representaria valores extremamente altos na fração de carbono orgânico soterrado (até 52%), não encontrados em ambientes modernos. Isto leva a crer que processos secundários podem estar envolvidos no fracionamento isotópico de carbono, como a metanogênese microbial, igualmente associada ao contexto de restrição marinha. Os resultados preliminares sugerem que o Grupo Bambuí registra grandes perturbações no ciclo de carbono marinho no Ediacarano, relacionados ao estágio final de formação do supercontinente Gondwana, com possíveis implicações sobre o clima global. 

Programa Geofísica
Ano de publicação 2019
Tipo de publicação Artigo publicado em congresso
Nome da revista/jornal Boletim de resumos - Iº Simpósio de Pós-Graduação do Instituto de Geociências-USP
Localidade Publicação Nacional
Volume 1
Página inicial 34
Página final 34
Página web https://repositorio.usp.br/directbitstream/accd1fc0-dd96-4fec-a219-e7e93ebf322b/2955984.pdf
Anexo Caetano-Filho, S., Paula-Santos, G.M. de, Sansjofre, P., Guacaneme, C., Trindade, R. I. F. da, & Babinski, M..pdf