Paleomagnetismo, estratigrafia magnética e sedimentologia do Ediacarano na Formação Avellaneda (Argentina)

Autor Jhon Willy Lopes Afonso
Orientador Ricardo Ivan Ferreira da Trindade
Tipo de programa Doutorado
Ano da defesa 2022
Palavras chave Craton Río de La Plata, Ediacarano, estratigrafia magnética, isótopos estáveis, paleomagnetismo, sedimentologia
Departamento Geofísica
Site web https://doi.org/10.11606/T.14.2022.tde-26082022-155519
Resumo

O Período Ediacarano registrou notáveis perturbações em quase todos os elementos do Sistema Terra. Este intervalo é pontuado por largas oscilações nas razões isotópicas de 13C. No Ediacarano os oceanos tornarem-se progressivamente oxigenados e capazes de abrigar organismos macroscópicos complexos. O aparecimento da vida macroscópica foi acompanhado por expressivas mudanças na configuração paleogeográfica dos continentes. O comportamento do campo magnético terrestre durante o Ediacarano é controverso. Estudos recentes sugerem uma baixa intensidade e uma frequência de alta taxa de reversão do campo geomagnético. Acessar o registro do Ediacarano é fundamental para compreender estes eventos e suas consequências na modernização do planeta. A cobertura sedimentar do Cráton do Río de la Plata (RPC) representa uma oportunidade de acessar informações significativas sobre este momento crítico da história da Terra. Esta tese investiga as rochas sedimentares da Formação Avellaneda (Grupo La Providencia) na porção noroeste do Sistema Tandilia (Argentina). A Formação Avellaneda por seu posicionamento estratigráfico entre 580-560 Ma é uma janela de observação importante para uma fatia de tempo de baixo nível de conhecimento. O foco da tese é fornecer de informações sobre as condições paleodeposicionais, adquirir novos dados de isótopos de carbono e combinar com estratigrafia magnética além de fornecer um contexto paleogeográfico da Formação Avellaneda. Para fazer isso foram investigados três furos de sondagem de espessura variável entre 11 e 20 metros. O estudo de microfácies auxiliada por novos dados de isótopos de carbono permitiu refinar o cenário deposicional da Formação Avellaneda, indicando um ambiente submaré/intermaré a intermaré/supramaré. Pela primeira vez foram relatados pseudomorfos de sulfatos de cálcio além de texturas evaporíticas, indicando alguma restrição na bacia ou uma zona de alta evaporação. Os dados de 13C revelam uma excursão negativa localizada próximo ao topo da Formação Avellaneda. Esta excursão é de natureza primária e interpretada como uma expressão da excursão isotópica Shuram. Apesar de não atingir valores negativos extremos, esta excursão isotópica é consistente se comparada com outras seções coevas. A presença da excursão Shuram na Formação Avellaneda implica em uma idade para sua deposição em torno de ~570 Ma. As rochas da Formação Avellaneda forneceram direções magnéticas estáveis, portadas por magnetita e hematita, que são consistentes nos três furos estudados. Esses dados, junto com os registros de outras unidades fora do RPC, permitiram construir um arcabouço magneto-estratigráfico para o Ediacarano médio, englobando todo o período de ocorrência da excursão Shuram. Os novos dados paleomagnéticos contribuíram para definir uma curva de deriva polar aparente (APWP) mais robusta para o cráton Río de la Plata (RPC) de 600 a 560 Ma. O polo paleomagnético não se assemelha a nenhum outro polo previamente determinado para o RPC fornecendo, portanto, um novo vínculo paleogeográfico para um dos blocos continentais mais importantes do Gondwana Ocidental. De acordo com os novos dados, durante o intervalo de 580-560 Ma, o RPC migrou para paleolatitudes moderadamente altas (entre cerca de 50° e 42°S). Estas latitudes estão próximas daquelas esperadas para a ocorrência de evaporitos. Além disso, os dados paleomagnéticos sugerem uma grande rotação no sentido anti-horário para o RPC, mas pouco deslocamento paleolatitudinal entre 580 e 570 Ma. Por fim, os dados obtidos na Formação Avellaneda fornecem novas informações sobre o paleoambiente, geoquímica de isótopos de carbono e oxigênio, estratigrafia magnética e paleogeográfica que podem contribuir na compreensão dos eventos ocorridos no Ediacarano.